Pessoas Lindas!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ô Lótus, que Saudade...


Cachorros

"É mais fácil entender um cachorro do que um ser humano, e mais fácil gostar dele também.
A inteligência do cachorro é proverbial, e ele não pode dissimular nem mentir. É um santo, honesto e franco por natureza. Nos casos excepcionais em que surgem alguns estigmas do pecado hereditário provenientes de seus selvagens antepassados, que dependiam da astúcia na luta pela vida, esses estigmas tenderão a se desvanecer se ele puder confiar e ser tratado com justiça por nós. Se permanecerem num cão bem tratado, ou ele não é normal ou está sofrendo de insanidade moral.

O cachorro admite alegremente a superioridade do dono. Sua submissão é voluntária e ele espera que seus direitos sejam respeitados, por seu turno. Olha para o dono como para seu soberano, quase seu deus; espera que esse deus seja severo se necessário, mas conta também que seja justo. Sabe que seu deus pode ler seus pensamentos, e que ele pode igualmente ler os do dono, entender sua disposição de momento e prever suas decisões.
Sabe quando sua presença não é desejada e fica horas deitado quando seu dono está trabalhando. Mas quando o dono está triste e preocupado ele vai se arrastando até pousar a cabeça no colo dele, como se dissesse: “Não se preocupe, patrão! Não se amole, se o abandonarem! Eu estou aqui. Vamos dar uma volta e deixa isso prá lá.”

É estranho e comovedor observar o comportamento de um cachorro quando o dono está doente. Que presciência da morte pode ter um cachorro? Pelo menos tanto quando nós, provavelmente, bastante mais.
Pode-se ensinar basicamente tudo a um cachorro, à força de encorajamento carinhoso, paciência e biscoitos. Nunca perca o controle e não use violência. O castigo corporal imposto a um cachorro inteligente é uma indignidade que recai sobre o próprio dono.
É, além de tudo um erro psicológico. Mas deixe-me acrescentar que aos cachorros pequenos só lhes faz bem, como as crianças pequeninas, umas palmadinhas de vez em quando.

Quando um cachorro está doente, submete-se a quase tudo, mesmo a uma operação dolorosa, se lhe for explicado em voz firme que é coisa que não se pode deixar de ser feita.
Nunca anime um cachorro a comer quando esteja adoentado, muitas vezes comerá só para agradar o dono, mesmo que o instinto o esteja aconselhando abster-se de alimento. Os cachorros, como as crianças, podem viver vários dias sem jejum sem inconveniente algum.

Os cachorros podem suportar a dor com grande coragem, mas gostam de saber que estamos com pena deles. É tão curta, infelizmente, a vida de um cachorro e não há nenhum de nós que não tenhamos sentido a perda de um desses amigos. Nossas primeiras palavras depois de o ter levado ao último repouso são que nunca mais vamos querer outro cão; nenhum outro pode ser para nós o que aquele foi.

Estamos enganados. Não é um cachorro que amamos, mas o cachorro.
Todos eles estão dispostos a nos amar e ser amados.
Todos representam criação de Deus a mais amorável e, moralmente falando, a mais perfeita."

(Axel Munthe - “O Livro de San Michele”)

Lótus e eu
(Lótus *22/03/1999 +20/05/2007)