Pessoas Lindas!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pré-Seleção Khan el Khalili- Parte 1 e 2

Introdução
A Pré-Seleção Khan el Khalili teve sua primeira edição em 1999, quando a Casa ja tinha 17 anos de funcionamento.
Desde então, apenas no ano de 2007 a banca não foi realizada.
E em todos esses anos, um fato que não pode ser desmentido e nem desmerecido: a Casa de Chá Khan el Khalili foi e ainda é berço de muitos talentos.


Uma palavra que define a Pré-Seleção é organização.
Desde as inscrições, passando pelas avaliações e pela dança para a banca, tudo é feito com disciplina, método e transparência. Datas, horários e prazos são cumpridos à risca, envio das avaliações, comunicação clara e direta. Um exemplo.


Escrever sobre a Pré-Seleção, há apenas dois dias depois de ter participado, é um pouco difícil.
Primeiro, pelo cuidado que preciso ter para descrever com justiça a organização, credibilidade e eficácia de todo o esquema criado por Jorge Sabongi e, segundo, porque ter participado como bailarina pré-selecionada, deixa qualquer uma com a emoção e os nervos à flor da pele.


Mas acho importante para todas as bailarinas que pretendem prestar a banca, saber um pouquinho mais, vamos lá?
Para mim, a Banca em si tem dois momentos, e decidi descrevê-los dessa maneira:

PARTE 1 - A Dança para a Banca
Todas que se inscrevem e enviam seus dvd's recebem o cd com a avaliação gravada por Jorge Sabongi. Nessa gravação Jorge lista os pontos positivos e os pontos a melhorar, dando dicas, indicando profissionais para aulas e estudos e preparando a bailarina para o que está por vir.
As datas para a apresentação para a Banca são divulgadas com meses de antecedência, e junto com a gravação a bailarina recebe uma carta com data e hora marcadas para uma reunião com Jorge, para tirar dúvidas e conhecer os procedimentos no dia da banca.

O encontro com Jorge
O encontro com Jorge acontece um dia antes da banca, e é um momento especial para todas que participam.
Jorge explica nesse encontro os critérios de avaliação, a composição da Banca, tira dúvidas sobre horários e normas e ainda passeia pela Casa de Chá com todo o grupo, para que este veja o local da dança, a luz que será utilizada, tudo como se fosse o 'grande dia'.
Ah, tudo regado a chazinho, bom humor e muita sinceridade.

Os critérios de avaliação
Por mais que procurem na net ou nos 'contatos', a ficha com os critérios de avaliação é algo confidencial, mesmo.
Só tem acesso à ela as bailarinas que avaliam e quem presta a banca.


São 26 itens fixos, que se ramificam em diferentes questões, com notas de 06 a 10 e muitos itens com peso diferenciado, que pode ir de 02 a 04 pontos, transformando em mais de 50 itens, ao todo. A cada ano uma nova categoria é acrescentada ou modificada, e a distribuição dos pesos também muda.


Portanto, os critérios são exclusivos da Casa, confidenciais e atentos as tendências e mudanças da dança ao longos dos anos.
Esse ano uma nova categoria foi adicionada.


Os itens vão desde técnica, passando por expressão, criatividade, improviso, entrada em cena, véus, feminilidade, estética, traje, trabalho de braços e mãos e muitos, mas muitos outros pontos que, unidos, compõem o perfil de uma Bailarina considerada Padrão de Qualidade.




Assim como em uma empresa, que tem o perfil de cada candidato a ser contratado, a Casa de Chá coloca em pontos claros e diretos o seu perfil desejado e aquelas que querem dançar na casa, devem seguir esse padrão.

No dia da Banca, um espaço é reservado as participantes, estas devem chegar uma hora antes, preparar-se e aguardar. O horário da dança é respeitado, pontualmente na hora marcada a assistente de todas nós, Vic, vem nos buscar para a dança.


Esse é o momento decisivo. Enquanto Jorge aleatoriamente dá o play na música, a bailarina deve se dirigir para a entrada do harém e, no momento em que sentir que é a hora, entrar e dançar.
As músicas são de 7 a 12 minutos, estilo clássico, grandiosas.

A Banca
As pessoas da banca são bailarinas do Harém e convidados especiais que tenham um trabalho significativo com dança.
No meu dia, foi a maior presença VIP da pré deste ano.
Ninguem recebe nada por estar na banca, as pessoas vão de bom grado e, além das notas, anotam sugestões e dicas na ficha. Um primor!


Os integrantes da banca ficam sentados em pufes com mesinhas à sua frente e nós, bailarinas, dançamos com eles à nossa volta... uma sensação que não consigo descrever, me desculpem.
Olhar o rosto das pessoas que estudo e admiro, entrevisto, todos ali, olhando para mim, foi algo que eu senti e vou guardar comigo, por um tempo indeterminado.


Quando a dança terminou e os aplausos chegaram, eu fiz a reverência bem consciente da história de todos ali, que chegaram antes de mim.


Após a dança, Vic nos conduz de volta à sala. Ela é discreta e respeita os momentos de emoção, foi o suporte de muitas bailarinas naqueles momentos essenciais antes e depois da dança.



Preciso registrar aqui uma pessoa que fez a diferença na banca: Nagla Yacoub. Foi o comentário geral:ela incentivou a todas com o seu sorriso, olhar, atenção. E no Harém, curtia e aplaudia cada entrada com uma alegria, uma jovialidade exemplar.

Parte 2- O Show no Harém
Ter a oportunidade de dançar no Harém, ainda que por um minuto, é para muitas de nós um sonho.
Foi realizado, no meu caso.
A dança no harém é uma gentileza da Casa para com todas nós que prestamos o exame.
E é absurdamente um momento único.
A alegria contagiante das pessoas da platéia, a emoção das bailarinas, a adrenalina... um sonho, não consigo imaginar outra palavra.

As bailarinas que prestam a Banca fazem a abertura da noite. No nosso Harém, a lotação estava esgotada. Gente de todos os lugares, ansiosos pelo show!
As Bailarinas do Harém, as 'Top' da casa que fizeram o show após nossa apresentação: Aziza, Priscila, Nesrine, Juli e Luciana Zambak.

Uma demonstração de gentileza e humildade: todas parabenizaram as participantes da banca, aplaudiam, e celebravam conosco. Aziza estava mais próxima de todas nós, ficando um bom tempo no hall curtindo com todas nós as emoções daquela noite.

Nesrine fez o solo mais bem elaborado, com a leitura mais impecável que ja vi. Isso vai render um post depois, aguardem! E quando fui falar com ela, parabenizar pela dança, ela disse um 'obrigada' com tanta humildade e doçura, que virei fã, de carteirinha.
Anotem: é uma estrela, com o melhor significado que isso possa ter. Nesrine vem aí, já está aí.

Fiquei impressionada com a platéia. As pessoas que vão a Casa estão lá porque realmente gostam de dança, do show, do ambiente.
Tanta gente fotografou, gritou meu nome, aplaudiu, que me senti fazendo parte de tudo aquilo por direito e aproveitei mesmo!
Um momento muito especial foi quando vi a Harah.
Ela sempre escreve aqui nos comentários do blog, e fiquei tão grata pela oportunidade de finalmente vê-la de pertinho que tive que conter o choro.


Foi maravilhoso falar com ela ao final do show- gente, ela tem os olhos lindos, um escândalo! Não só a cor, mas o que vem dentro deles! - e fiquei curiosa e morrendo de vontade de conhecer as outras blogueiras, todos os meus seguidores, enfim, gente, quero conhecer vocês! foi muito bom! Harah, obrigada por tudo!

O show é muito organizado, como tudo na casa.
Jorge escolhe de maneira bem aleatória (apontando o dedo e contando, rs) a ordem das apresentações e controla as entradas de cada uma, tempo certinho! Ele troca cd, mexe na luz, dá as ordens, toca snujs, anota coisas enquanto bailarinas dançam - sim, ele avalia até as bailarinas 'top' da casa- e curte tudo com uma alegria genuína.

Fiquei ali, por um breve momento, observando esse homem apelidado de 'Habib', que se emocionou ao final da Noite, como se fosse a primera edição da Pré.
Esse homem criou essa fábrica de sonhos chamada Khan el Khalili em 1982, e se mantém no mercado fazendo o que acredita e gosta. Isso é bonito de ver: alguém fazendo o que gosta.

E foi o que eu fiz, pessoal.
Dancei.
Como disse minha amiga Verônica: 'No lugar certo, na hora certa.'
Curti cada segundo, e isso fez tudo valer.
Dancei o que podia, da maneira como senti.
E isso fez toda a diferença: fui eu, realizando um sonho.
Não dancei com figurino de atêlie famoso. Dancei com um traje que minha mãe costurou, com o tecido que era de um Sári, que ganhei de um rotariano de coração enorme, quando estive na India.

Cheguei 3 horas antes da minha Banca para ajudar as outras meninas a se vestirem, ainda que minha ajuda nem tenha sido solicitada.
Dancei mesmo sem ar - minha música durou 11 minutos e 54 segundos.
Mas fui até o fim, não fugi do bom combate em nenhum momento.

E indico a todas essa experiência, vale muito, cada segundo.
E deixo aqui um trechinho da minha felicidade, filmada pelo meu amigo Carlos: meu breve momento, dançando na Casa que me ensinou a ser gente/bailarina.
O resultado? Superei meus medos e fui feliz.
O mais, é lucro. Seja qual for.