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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O povo Sikh - Uma aventura na Índia

*viagem patrocinada pelo Rotary International - fui como embaixadora da Arte da Dança

Ir para a India é uma experiência única. As cores, a comida, as pessoas, os lugares...tudo é grandioso e incrível.
De todas as vivências que tive morando com 11 ou 12 famílias na minha jornada de 38 dias por 13 cidades- ufa! - o que mais me impressionou foi conhecer o povo Sikh.

Meu amigo, Kammaaljeet

A visão de um Sikh nunca é algo trivial.
São homens altos, de pele morena, lindos olhos amendoados e o turbante feito com 7 metros de tecido chamam a atenção e nos fazem perdurar o olhar.

Eu nunca havia visto um Sikh pessoalmente e confesso que minha unica referência era o do filme 'O Paciente Inglês' interpretado por Naveen Andrews, com o personagem 'Kip'.
'Cena de O Paciente Inglês'

Os Sikh tem um orgulho em ser quem são e ostentam isso com uma naturalidade genuína, que me faz lembrar com detalhes de cada Sikh que vi na India. Os turbantes podem ser de cores e tecidos variados, mas o olhar de Rei é sempre o mesmo.
São todos magros e elegantes, e os mais velhos um pouco corcundas devido a idade e o peso do cabelo - que não cortam jamais ao longo da vida, e os sete metros de tecido do turbante.

Em uma viagem de trem, passei quase todo o trajeto perguntando e aprendendo sobre esse povo com o meu amigo Kammaal. Foram horas de conversas, risos e a constatação de que, se eu pudesse escolher um bom amigo, seria um Sikh.

Eu tomei nota de quase tudo o que conversamos, e folhear meu caderno hoje, encheu meu coração de saudade. Enquanto o trem percorria o sul da India, eu fui descobrindo um universo de homens guerreiros e trabalhadores.

'Você jamais verá um Sikh pedindo esmolas' - ele me disse.
'Nós temos saúde e força e iremos trabalhar e sobreviver com honra até o fim dos dias.'

Um Sikh tem orgulho de sua estirpe e demonstra isso utilizando os símbolos máximo de sua fé - que se mistura à vida -
- o turbante - para diferenciá-los na multidão e fazê-los lembrar quem são;
- a pulseira de metal ''Kara''- como símbolo de sua fé e exemplo do seu Guru - uma forma circular para lembrar que o universo é infinito, e  toda vez que  levarem a mão à boca para comer ou beber, professar a sua fé lembrando de quem são e de que fé é tão importante quando o alimento;
- o punhal 'Kirpan' - parece-se com um, não dá pra descrever, mas os deixa sempre prontos para a batalhe e é o símbolo de sua força e prestatividade;
- pente- 'Kanga' - trazem sempre consigo, ou no turbante, ou no bolso, reafirma o compromisso com a sociedade Sikh;

- a roupa de baixo é sempre a mesma - mesmo modelo- para lembrar da humildade e origens, independente de poder aquisitivo ou traje de luxo.



Pedi ao meu amigo que me ensinasse como prender o cabelo, por baixo do turbante

O cabelo e o turbante são parte de um ritual diário que requer tempo e destreza dos homens Sikh.
São 7 metros de tecido para envolver kilos de cabelo, que jamais foram cortados.

Fiquei imaginando aquilo tudo de cabelo preso no tecido, com o calor da India... mas devo dizer que em nenhum momento presenciei algum Sikh com aroma de suor ou que não cuidasse da higiene. Pelo contrário, a despeito dos hábitos dos Indianos em geral - apenas um banho por dia, pela manhã - os Sikh sempre me pareceram asseados e preocupados com a saúde e aparência.
Foram um dos poucos povos em que percebi a preocupação em lavar as mãos antes de comer e estar o tempo todo com lenço, para manter mãos e rosto limpos.Os meninos Sikh acostumam-se desde pequenos a ter seu cabelo envolto em tecido, seguindo o exemplo do pai e de seu povo. Atualmente, a nova geração de jovens Sikh têm abandonado o turbante, o emblema mais visível dos Sikh devido a modernização e globalização das tendências de moda e comportamento ocidentais, porém em muitas regiões do interior da India é possível encontrar jovens que decidiram seguir as tradições.

Aprendi com esse povo sobre ter orgulho de quem somos e não se envergonhar de suas escolhas.
Um dos momentos de sabedoria Sikh eu pude presenciar em meio a um grupo de pessoas, quando percebi meu amigo Sikh silencioso e, na tentativa de fazê-lo interagir eu disse: ''Kammaal e você? Por que não está conversando?" e ele respondeu:

''Se todos estão conversando, quem está ouvindo?''

São pequenas 'pérolas' como essas aliado ao comportamento educado e garboso que me fizeram encantar por esse povo.

Num dos bate papos que tivemos, aprendi que os Sikh procuram por esposas discretas, de pele morena, cheinhas - sim, quadris largos e seios fartos, segundo eles requisitos para serem boas mães/parideiras - e olhos escuros. 

Para um Sikh, uma mulher como eu - de olhos claros - é considerada uma 'aberração' (palavras do meu amigo! rs) pois olhos e pele clara representam fragilidade, pouca saúde e iria 'sujar' a linhagem morena e de olhos escuro amendoados dos Sikh.

eu e minha amiga Silvia, durante a viagem, com Kammaal

O povo Sikh foi um dos primeiros a estabelecer uma corrente solidária através de sua fé. Todos os templos Sikh possuem um cômodo que serve de abrigo a andarilhos, viajantes e pessoas menos favorecidas, para que possam dormir e receber alimento sem custo algum.

Para visitar um templo a mulher deve cobrir o cabelo.

A experiência de visitar um templo Sikh  é algo inesquecível.
O dourado impera nos detalhes e apesar de parecer sisudo, é tudo simples e limpo. Há sempre alguém lendo a escritura sagrada dos Sikhs o ''Guru Grand Sahib'', segundo eles a revelação categórica de Deus numa linguagem universal. 
É lindo, independente do idioma, é possível sentir na voz de quem lê o sagrado ali presente. Em qualquer horário, nas 24h sempre haverá alguem lendo e cantando as revelações.

Não tem como separar fé, religião e sociedade.

Para o Sikh tudo está interligado e é maravilhoso presenciar o sagrado em seus gestos, sorrisos e ações.

Esse post é apenas uma pequena fagulha das minhas impressões, você pode saber mais pesquisando sobre o Sikhismo na net e leituras variadas.