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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Técnica e Expressão - Por Millah Marcucci




Estes dias li um texto interessante como o excesso de racionalização acaba por dissolver a essência simples, mas harmoniosa de certas coisas, bloqueando o fluxo que a nutria anteriormente de forma natural, inibindo sua expressão.
A racionalização e o estudo técnico servem para dar base para algo maior... a expressão de nossa alma, de tudo que temos dentro dela.
Já ouvi muitas vezes que a Dança do Ventre e outras danças folclóricas egípcias tem “personagens” diferentes a serem interpretados nas diversas partes da música. Hoje vejo diferente, até mesmo porque, em algumas correntes de interpretação, a personagem nasce do próprio ator. A personagem é o ator na situação e com as reações da personagem. É como você reagiria se estivesse em tal situação, com tal histórico de vida, com tais pessoas, em tal ambiente. Atuar é você na situação proposta pelo autor, o texto é um estímulo para sua interpretação.
Claro que existem situações e personagens muito diferentes do que somos hoje. Para dar vida a alguém tão diferente, temos um recurso poderoso: a imaginação. Imaginar como agiríamos se fossemos tal pessoa (personagem).     
Por que uma egípcia “sente” a música? Por que ela vive naquela realidade ou próxima dela, o preenchimento interior (sentimento) é natural...  
Por que ninguém dança samba como brasileiro? Por que faz parte da nossa realidade, crescemos com a escola de samba, o tocar do tambor toca no nosso coração. Quem não sente o tambor no coração não consegue dançar...
A bailarina dança o que ela é e da forma como ela sente. Eu danço o que eu sou. O que muda é o estímulo, que neste caso é a música e sua composição. Agora, para reconhecer e sentir este estímulo de uma cultura que não é a nossa, devemos ter contato não só com a dança, mas com a cultura e realidade deste povo representado, pesquisar como deve ser sua vida, seus sentimentos e aspirações. Além de uma base técnica, de um corpo vivo e treinado capaz de expressar o que temos interiormente.
Há um trabalho externo a ser realizado, em termos de pesquisa cultural e estudo técnico da dança, e um trabalho interno. O trabalho interno é o pensamento, a imaginação, é trazer a realidade daquele povo para a sua dança. Assim, através de um meio racional, conseguimos atingir e sensibilizar nosso meio interior, enchendo nosso subconsciente de informações a serem utilizadas posteriormente, de forma “intuitiva”.  Enquanto criamos, preenchemos os movimentos com todo este conteúdo, que, misturados às nossas vivências pessoais, transbordam em nossa dança, em expressão pura do que somos, inspirados pelos sentimentos de povos distantes. 
O momento da apresentação é o momento da consciência, da presença, da entrega, da confiança no seu processo. Não dá para se entregar com o pensamento preso em questões técnicas. Hora de dançar é hora de deixar fluir... todo o seu trabalho anterior.  

                Sou Millah e assim falei...

“As regras servem para estimular e mostrar um caminho,
não para podar a criatividade”.



*Por Millah Marcucci